Da Agência O Globo
A América Latina e a Europa vivem situações diametralmente opostas em relação ao mercado de trabalho. Enquanto continuam diminuindo os índices de desemprego na América Latina e região do Caribe, na zona do euro os números mostram que a cada dia cresce o contigente de pessoas sem trabalho.
Segundo previsão da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), a região terá este ano a menor taxa de desemprego desde meados da década de 90, fechando com média de 6,4% ante os 6,7% registrados em 2011. Já nos países da zona do euro, o desemprego atingiu 11,7% da população economicamente ativa em outubro - o que significa19 milhões de pessoas desempregadas - e continua crescendo.
“A forte relação comercial dos países emergentes da América Latina com a China, nos últimos anos, refletiu-se no crescimento econômico dessas nações e no fortalecimento do mercado de trabalho. Os índices de emprego na América Latina tendem a ficar nesse patamar baixo, enquanto na Europa o elevado desemprego é resultado de uma política fiscal austera dos governos, com demissões no serviço público, corte de gastos, que resultam em recessão. Na Europa, o cenário para o mercado de trabalho vai continuar ruim”, diz o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.
Do lado de cá do Atlântico, o Brasil, ao lado do Chile, é um dos países que puxam a média do desemprego para baixo, com taxa de 5,3% em outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os chilenos registraram taxa de desemprego de 6,5% no mês passado. Já países como Colômbia, com desemprego na casa de quase 10% e República Dominicana, com 13%, puxam a média para cima. Na Argentina, o desemprego está em 7% e na Venezuela 8,2%, segundo institutos locais que medem o índice.
"Em muitos países da região manteve-se a tendência recente de melhora na qualidade do emprego, caracterizada pelo dinamismo da geração de emprego assalariado, significativos aumentos do emprego formal e redução do subemprego", informam a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, e a diretora regional do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para a América Latina e o Caribe, Elizabeth Tinoco.
De acordo com a Cepal, a redução do desemprego na região acontece sistematicamente desde 2002. Houve uma interrupção em 2009, após a crise mundial de 2008, mas o movimento de queda se recuperou. De acordo com levantamento da Cepal, além da diminuição nos índices de desemprego, houve ganho de renda dos trabalhadores com os baixos índices de inflação na região. Na média, segundo a Cepal, a inflação na região em 2011 foi de 6,4%. A Cepal estima que a inflação continue caindo este ano, já que em julho a média da região estava em 5,5%, a menor registrada desde novembro de 2010.
Já na Europa, em países como Espanha, Grécia e Portugal os índices de desemprego são alarmantes, de respectivamente 25%, 24% e 16%. Em outubro, mais 173 mil pessoas ficaram sem trabalho nos 17 países da zona do euro, segundo o escritório de estatísticas da União Europeia (UE) Eurostat. Há um ano, a taxa de desmprego estava em 9,9% na região. Como a economia da zona do euro este ano entrou em recessão pela segunda vez desde 2009, as perspectivas para a recuperação do emprego são pessimistas. Para 2013, a taxa de desempregados deve continuar em alta.
"Nós ainda não saímos da crise. A recuperação para boa parte da zona do euro certamente começará na segunda metade de 2013", disse o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, à rádio francesa Europe 1. Ainda assim, a Europa conta com algumas exceções como Áustria, com taxa de desemprego de 4,5%, Luxemburgo, com 5,2%, Holanda, com 5,3%, e a Alemanha, com 5,5%.
“Não se vê um horizonte de recuperação para o emprego na Europa nem no médio prazo. Não há crescimento econômico, demanda e dinheiro. Além disso, alguns governos ainda têm necessidade de ajustes. Não vejo expectativa de recuperação do emprego rapidamente”, diz Márcio Cardoso, sócio da Título Corretora.
A queda do desemprego na América Latina e no Caribe é atribuída pela Cepal ao crescimento econômico da região, que deve se repetir este ano, embora em menor escala do que em 2011. Segundo a Cepal, a taxa média de crescimento da região, este ano, deve ficar em 3,2%, 1,1 ponto percentual menor do que no ano passado.
O relatório da Cepal aponta que a redução da pobreza na região - mais de 1 milhão de pessoas deve sair dessa condição este ano - é atribuída à renda obtida com o trabalho. De acordo com a Cepal, nos sete países cujos níveis de pobreza diminuíram significativamente, no ano passado, a renda do trabalho tem participação importante. As transferências de renda, tanto públicas como privadas, incluindo as pensões e as aposentadorias, bem como outras rendas (de capital, aluguel etc) também contribuíram para a redução da pobreza, embora em menor grau.
Mesmo assim, alerta o relatório, qualquer tipo de emprego não é o caminho para que as pessoas deixem a linha da pobreza na América Latina. A Cepal mostra que a maioria dos pobres e pessoas em situação vulnerável da região (a partir dos 15 anos) já tem emprego. Os desocupados somam apenas 6% entre os pobres e 8% entre os indigentes.
“O desafio na América Latina e no Caribe é gerar empregos de qualidade dentro de um modelo de desenvolvimento orientado para a igualdade e para a sustentabilidade ambiental”, afirma a secretária-executiva da Cepal.
Outro desafio da região é reduzir a concentração de renda. Na média dos 18 países onde se encontram informações recentes os 10% mais ricos da população recebem 32% da renda total, enquanto os 40% mais pobres recebem apenas 15%. Segundo a Cepal, há níveis altos de concentração de renda em países como o Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala, Honduras, Paraguai e República Dominicana. Nessas nações, as proporções se aproximam de 40% da renda para os mais ricos e entre 11% e 15% para os mais pobres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário