Do Estadão.com.br
O governador de Pernambuco e presidenciável, Eduardo Campos (PSB), entrou na
rota de empresários e integrantes do mercado financeiro do eixo Rio-São Paulo e
de tradicionais financiadores de campanha. Na liderança de um Estado com
crescimento econômico maior que o do resto do País - a previsão é de aumento do
PIB de 3,5% neste ano, ante 1,6% do Brasil -, Campos intensificou o contato com
CEOs dos principais grupos econômicos nacionais, o que lhe garante projeção e
fortalece seu projeto político.
Campos começou a construir uma relação com o PIB nacional quando foi ministro
de Ciência e Tecnologia no governo Lula, entre 2004 e 2005. Como governador,
caiu nas graças dos empresários ao promover ajuste das contas, implementar
sistema de gestão com metas para saúde, educação e segurança e oferecer
incentivos e benefícios à indústria. A Fiat, por exemplo, anunciou investimento
de R$ 4 bilhões no Estado, que concedeu terreno e regime tributário
diferenciado, com desoneração de 95% do crédito presumido de ICMS, por 12
anos.
Acessível, o governador deixou para trás a desconfiança que socialistas como
o seu avô, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, despertavam em setores
do empresariado. Como resultado, somente no último ano levou 15 novas empresas
ao Estado.
A perspectiva de poder ajuda a atrair empresários para a sua órbita. Campos
pode disputar a Presidência em 2014, mas a aposta do seu grupo político é que,
se a economia estiver bem, a tendência é Dilma Rousseff se reeleger. O
governador poderia, então, guardar seu projeto para 2018.
Foi a “sugestão” que Jorge Gerdau, presidente do Conselho de Administração da
Gerdau, lhe deu na semana passada ao afirmar que a perspectiva para concorrer em
2014 é “muito difícil”. Gerdau aproximou-se dele por meio do Movimento Brasil
Competitivo, criado pelo empresário para buscar eficiência na gestão pública. A
parceria rendeu elogios, e Gerdau já disse que Pernambuco é modelo de eficiência
e governança.
“O investimento não vem simplesmente porque gostam do governador. O
governador apresentou um cardápio com obras de infraestrutura para receber os
investimentos”, defende o secretário de Fazenda, Paulo Câmara.
Campos é considerado político hábil. Mantém relação de proximidade com
empresários como Marcelo Odebrecht, com quem jantou em fevereiro, e Carlos
Jereissati, da Jereissati Participações.
Os contatos também se intensificaram no meio financeiro. Na quinta-feira, o
presidente do JP Morgan no Brasil, Cláudio Berquó, esteve no Recife, onde falou
sobre planos de abrir um escritório regional. André Esteves, do BTG Pactual,
mantém uma representação na capital e se tornou interlocutor do governador. No
dia 9, jantou com Campos no Palácio das Princesas, sede do governo.
No mês passado, o governador esteve em São Paulo e se encontrou com Lázaro
Brandão, do Bradesco. A reunião, que era para ser breve, acabou durando mais de
duas horas. Campos também tem boa relação com Roberto Setubal, do Itaú.
“Ele é um político habilidoso e gestor aplicado, que utiliza ferramentas
modernas de produtividade e eficiência. Isso atrai o empresariado”, disse o
senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE), ex-presidente da Confederação Nacional
das Indústrias.
Economia. Pernambuco se beneficiou de políticas econômicas,
como o aumento do salário mínimo e da oferta de crédito. O PIB do Estado, de
cerca de R$ 80 bilhões, vem crescendo em ritmo mais forte que o do País. De 2007
até o 2.º trimestre deste ano, a economia pernambucana cresceu 34%, contra 23,6%
no Brasil.
A indústria também apresenta ritmo mais forte que a do resto do País. De
janeiro a agosto, cresceu 3,8%, enquanto no Brasil houve retração de 3,4%,
segundo o IBGE. “(O crescimento) coincidiu com a conjuntura favorável. Se
estivesse atuando no fim dos anos 90, não teria o mesmo sucesso. Não dá para
descolar da conjuntura econômica nacional”, disse a economista da Universidade
Federal de Pernambuco Tania Bacelar, sócia da consultoria Ceplan.
O Estado contou com investimentos federais, como a Transnordestina e a
transposição do Rio São Francisco. A gestão de Lula deu outro empurrão ao
escolher Pernambuco para abrigar a nova refinaria da Petrobrás, Abreu Lima, que
criou um polo petroquímico local, e ao promover a política de construção de
navios em território nacional, criando uma indústria naval. “O governo investiu
em infraestrutura em Suape. O porto atrai mais investimentos, é a porta de
entrada”, disse o secretário de Desenvolvimento Econômico, Márcio Steffani.
As inversões reverteram o processo de desindustrialização que o Estado viveu
nos anos 80. “É como se estivéssemos vivendo a reindustrialização num momento em
que o Brasil discute a desindustrialização”, disse Tania. A previsão é de R$ 65
bilhões de investimentos públicos e privados até 2015. Ainda haverá aplicação de
recursos para a Copa do Mundo - Recife é uma das sedes dos jogos.
Gargalos. Apesar dos números positivos na economia, hoje o
principal problema apontado pelo empresariado é a mão de obra local, que
precisaria ser qualificada. Segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo chega a
17,3% e, em determinadas áreas, bate nos 30%. Há lentidão na execução de obras,
como a transposição do São Francisco, promovida pelo governo federal, e nos
projetos tocados por estaleiros locais. Em maio, foi lançado o primeiro navio
construído no Estado após dois anos de atraso e prejuízo financeiro - há outros
21 navios para serem entregues a Transpetro.
Ainda assim, Campos mantém a interlocução eficaz com o empresariado, o que
ajuda na hora de buscar doações para o PSB, partido do qual é presidente. Na
eleição municipal deste ano, a prestação de contas parcial mostra que a sigla
conseguiu levantar R$ 60 milhões, atrás apenas de grandes legendas: PMDB, PT e
PSDB.
Cifra razoável para um partido que sonha com a Presidência.
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