Da Swissinfo.ch
João Medeiros, diretor do Itaú Private
Bank. (istoedinheiro.com.br)
João Medeiros, diretor do Itaú Private Bank International, explica o que está por trás da decisão do banco de abrir operações na Suíça e avalia o futuro do private banking suíço.
Com
uma fatia de mercado de 25%, o private banking do Itaú Unibanco certamente não
tem o que reclamar. Os negócios no Brasil têm andado de vento em popa.
Com
a estabilização da economia, o Brasil nunca gerou tantos milionários como agora.
E é justamente para atender a esse público que o Itaú Private Bank International
tem reorganizado e ampliado suas operações internacionais.
Na Europa, o banco está transferindo as operações de Luxemburgo para Zurique, Suíça, onde estarão concentradas as atividades européias, explica João Medeiros, diretor do Itaú Private Bank International. Hoje, o banco já conta com uma equipe de 52 funcionários em Zurique. A seguir, Medeiros fala sobre a estratégia do banco, os concorrentes no Brasil e no mundo e ainda confirma a decisão do Banco Itaú BBA International, operação européia dedicada ao segmento de corporate e investment banking, de abrir um banco na Inglaterra.
Na Europa, o banco está transferindo as operações de Luxemburgo para Zurique, Suíça, onde estarão concentradas as atividades européias, explica João Medeiros, diretor do Itaú Private Bank International. Hoje, o banco já conta com uma equipe de 52 funcionários em Zurique. A seguir, Medeiros fala sobre a estratégia do banco, os concorrentes no Brasil e no mundo e ainda confirma a decisão do Banco Itaú BBA International, operação européia dedicada ao segmento de corporate e investment banking, de abrir um banco na Inglaterra.
swissinfo.ch: Brasil se tornou um destino extramente atraente para o private banking. Como o senhor avalia o desenvolvimento desse segmento nos últimos anos.
João
Medeiros: O Brasil é uma economia de mercado, que passou por um processo de
estabilização nos últimos 10, 15 anos, inclusive da moeda, desencadeando um
processo de criação de riqueza relevante. Além disso, o Brasil tem um setor
empresarial moderno e ativo. Tudo isso fez com que a industria de private
banking tivesse um crescimento significativo. Não só no Brasil, mas na América
Latina de uma maneira geral. Na média, o private banking na América Latina tem
registrado uma taxa de crescimento acima 10% ao ano, variando, é claro, de país
para país.
swissinfo.ch: Como o Itáu está administrando a competição com os estrangeiros, tais como os suíços Credit Suisse, Julius Baer and UBS, que têm uma longa história de atuação neste segmento e que estão expandindo seus negócios na América Latina?
J.M.:
No Brasil, nosso mercado de origem, o Itaú tem 25% do participação do mercado
de private banking, ou seja, tem uma posição forte. Nesta indústria ter um
market share de 8% a 10% já é bem relevante, porque se trata de um setor
fragmentado. Mas o fato é que hoje a competição está aumentando. Existem bancos
como o Itaú aumentando sua oferta de private banking internacional. E há também
bancos estrangeiros entrando no Brasil em busca de uma fatia desse mercado. E
isso é bom para todo mundo: é bom para o cliente, que tem mais opções, é bom
para indústria, que se torna ainda mais dinâmica. Competição é sempre
saudável.
swissinfo.ch: O Itaú anunciou a abertura da unidade na Suíça em 2010, mas desde quando está realmente operando? E qual o objetivo de tal decisão?
J.M.:
O Itaú é o banco brasileiro mais internacionalizado. Tanto o Itaú quanto o
Unibanco já tinham operações de private banking no exterior há mais de 20 anos.
O Itaú em Luxemburgo e mais recentemente em Miami. E o Unibanco em Luxemburgo.
Mas o banco evolui junto com os clientes e com o momento brasileiro. Apesar da
presença internacional, entendemos que o cliente tinha que ter uma proposta de
valor sofisticada fora do país, que pudesse concorrer com as propostas dos
grandes bancos internacionais. Daí a idéia de levar nossa operação para a Suíça.
A Suíça é uma excelente jurisdição de private banking, tem conhecimento técnico,
tem escala, tem tecnologia, tem expertise. Estruturamos então a operação com um
pilar na Europa baseado na Suíça, um pilar nos Estados Unidos, com bases em
Miami e Nova York, e um pilar no Brasil, a partir daí cobrindo também América
Latina.
swissinfo.ch: E a operação na Suíça começou em 2010 mesmo?
J.M.:
Começamos a montar o banco em 2009 e recebemos a licença para operar em 2010. E
agora estamos num processo de consolidação das nossas operações na Europa,
estamos migrando nossos clientes de Luxemburgo para a Suíça. A idéia é ter
escala em Zurique. Essa operação está funcionando de uma maneira estruturada há
mais ou menos um ano.
swissinfo.ch: Existem planos de abrir uma filial em Genebra?
J.M.:
Quando resolvemos ir para Suíça resolvemos ir para Zurique porque achamos que lá
está a sede dos grandes bancos suíços. Há uma tradição. Tem vôo direto para o
Brasil. Consideremos Zurique um excelente hub para começar a operação. Não
sabemos se no futuro podemos abrir uma filial em Genebra, mas neste momento o
foco é Zurique.
swissinfo.ch: O que exigiu mais paciência: receber autorização do Banco Central brasileiro para operar fora do Brasil ou receber autorização do governo Suíço para poder atuar na Suíça?
J.M.:
São processos dinâmicos, não são rápidos, por definição. Abrir um banco é algo
complexo. Nós começamos o banco do zero. Considerando tal complexidade, eu diria
que conseguimos fazer tudo num tempo razoável. Existem várias questões
regulatórias, de sistemas, de operações, de contratação de gente. Tem também o
fato de que estamos sob holdings européias. Ou seja, temos o regulador
brasileiro,o regulador Suíço e o regulador Europeu. É esperado que reguladores
tanto no Brasil como na Suíça como na União Européia queiram estar confortáveis
com a nossa proposta de montagem do banco.
swissinfo.ch: Qual o tamanho da carteira de clientes do Itaú (Suisse)?
J.M.:
No final de setembro de 2012, o Banco Itaú (Suisse) contava com 3,8 bilhões de
dólares de ativos em gestão. Ao final da consolidação do banco na Suíça devemos
ter uma carteira de 6 a 7 bilhões de dólares.
swissinfo.ch: Quem é o cliente foco do Itaú International?
J.M.:
Nosso cliente foco é muito específico – e é só para esse cliente que temos uma
oferta: é o cliente latino americano.
swissinfo.ch: Uma pesquisa recente concluiu que o Brasil é o 4º país do mundo em recursos escondidos em paraísos fiscais. Fugir do fisco brasileiro, além de buscar uma economia estável, sempre foi um dos principais motivos pelos quais os brasileiros transferiram suas forturnas para a Suíça. Como o Itaú Suisse administra esse fato?
J.M.:
Quando nós pensamos na Suíça para levar nossas operações, consideramos algumas
razões básicas e fundamentais: a Suíça tem uma tradição de wealth management, é
um mercado maduro, com grande escala, com conhecimento e histórico. Estamos
montando um negócio de crescimento e para nós o importante é estar num lugar que
tenha uma verdadeira indústria de wealth management. Essas são as nossas
considerações.
swissinfo.ch: O senhor realmente acredita que a maioria dos clientes de private branking brasileiros prefere deixar seu dinheiro investido no Brasil?
J.M.:
O Brasil é um país de imensas oportunidades, onde os empresários reeinvestem boa
parte dos resultados em seus negócios. Naturalmente, as taxas de juros
altíssimas fizeram com que o cliente optasse no passado por uma alocação ainda
maior. Mas o Brasil sempre será um país onde o empresariado investirá uma parte
muito relevante dos seus resultados nos seus negócios. É claro que um cliente
com um patrimônio alto vai avaliar possibilidades de investimentos a partir de
uma perspectiva global, busca uma diversificação maior em suas carteiras. É
natural. Quando economias ficam ricas, amadurecem, seus investidores começam a
ter um olhar mais global.
swissinfo.ch: Como o Itaú Suisse tem enfrentado a retração na área de private banking pela qual a Suíça tem passado?
J.M.:
A indústria de private banking, como qualquer outra, sofre de tempos em tempos
mudanças estruturais. Vemos isso com naturalidade e sabemos que a evolução não
acontece de maneira linear. O setor de wealth management suíço está passando
por uma série de alterações, mas o nosso entendimento é que se trata de uma
indústria relevante, com mais de um 1,5 trilhão de ativos, e que contém
conhecimento, tecnologia e expertise. E mais: tem plenas condições de ser uma
indústria que ajudará a definir o futuro do setor. É por isso que estamos na
Suíça. Acreditamos que esse mercado sempre será um major player da indústria de
wealth management global. Vai se adaptar às mudanças, que sempre
acontecem.
swissinfo.ch: Quais são suas expectativas para 2012? Como espera fechar o ano?
J.M.:
Nós tivemos um bom ano. Não sabemos ainda como vai fechar, porque, por outro
lado, este tem também sido um ano muito volátil. Tivemos meses excepcionais e
meses não tão bons — quando há picos de agudez na crise européia, por exemplo,
os mercados ficam apreensivos. Temos como meta crescer receita e captação ao
redor de 10%. E acredito que vamos atingi-la.
swissinfo.ch: O senhor confirma que o Itaú BBA International vai mudar a sede de Portugal para o Reino Unido? Por quê? E quando isso deve acontecer?
J.M.:
O Itaú BBA pediu uma autorização para as autoridades regulatórias inglesas para
abrir um banco em Londres. E está em vias de obtê-la para abrir um banco na
Inglaterra.
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